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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Barrocas: Famílias vivem sem energia e água encanada no Povoado de Velho Domingo

Genésia Alves, 85 anos anos, não pode assistir a televisão que comprou
Moradores do povoado de Velho Domingo, Zona Rural de Barrocas, vivem a luz de velas e candeeiros, em pleno século XXI. A triste realidade atinge cerca de 10 pessoas que moram em residências sem o fornecimento de energia elétrica, além da falta de água encanada, mesmo estando a menos de 350 metros de outras residências atendidas pelas companhias, cerca de 600 metros do centro do povoado.

Poste sem uso improvisado pelos moradores
Assistir TV, acender uma lâmpada, ouvir rádio, falar ao celular, são algumas das atividades restritas para esses humildes barroquenses, que relatam só terem tido acesso a energia elétrica por um curto período do ano de 2015. Na segunda-feira (23) o JNV foi a comunidade e ouviu dos moradores que naquele ano, dividiam um padrão para cinco casas, na prática, a rede não suportava manter os eletrodomésticos funcionando sem constantes quedas e defeitos, além do custo de uma única conta que era muito alta.

Atualmente por não ter energia elétrica em casa, aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos viraram praticamente peças de decoração da simples residência da lavradora Maria Jacira, de 32 anos, que vive com três filhos menores e o esposo, ela relembrou a felicidade com a chegada da Coelba para colocar energia, infelizmente logo veio a frustração: "eles cavaram sete buracos dizendo que iriam colocar energia, isso tem dois anos já, esqueceram da gente e os buracos já fecharam" contou o lavrador Natalício Mota esposo de Maria Jacira. 

Maria Jacira mostra o candeeiro usado para iluminar a casa à noite
Para alimentar as cinco pessoas que moram na mesma casa, a carne é posta para secar  ao sol: "salgo e boto no sol, se não ninguém come, estraga, ai tem que dar aos cachorros"  relatou. Para não perder o contato com familiares, Maria carrega três aparelhos celulares em casas de vizinhos, apenas um chip é usado, quando um aparelho descarrega troca por outro, até a carga dos três acabarem.

Na casa ao lado, vive o irmão de Natalício, o também lavrador Manoel dos Santos Mota, 35 anos, que está desempregado e no momento, se sustenta fazendo bicos pela região, sua televisão comprada quando a energia elétrica chegava, está parada: "aqui ninguém fica sabendo de nada que acontece, não assiste tv nem ouve rádio, dá a noite e vamos dormir cedo" lamentou. O lavrador, chegou a comprar um rádio de pilha que não durou muito tempo: "só durou dois dias, não dá pra tirar do dinheiro de comer pra comprar pilha, deixei o rádio de lado".

"aqui ninguém fica sabendo de nada que acontece,
 não assiste tv nem ouve rádio" diz Manoel
A aposentada Genésia Alves, 85 anos anos, matriarca da família, depende do cuidado dos filhos. Na rotina da aposentada, estão os remédios para controlar a pressão arterial, os cuidados com a saúde são comprometidos principalmente no período da noite: "para quem é de idade e doente tudo é mais difícil, a noite eu me bato nas coisas da casa, porque minha vista é meio turva, só o candeeiro pra clarear muitas das vezes é difícil" explica a aposentada, que vê seus netos, de 09, 11 e 12 anos com os estudos comprometidos e se preocupa: "eles nem podem pegar no livro a noite, fazer uma tarefa, como vão estudar assim" lamentou. No momento da reportagem os três netos estavam na escola no povoado de Lagoa da Cruz. 

Luiz Mota, conhecido Luizão tem uma pequena casa de farinha que sem energia não pode funcionar.
Aos 85 anos, Luiz Mota, conhecido Luizão, lavrador aposentado chegou a vender uma vaca para comprar fios, na tentativa de trazer a energia até as casas. Ele lamenta principalmente que a casa de farinha esteja parada: "eu plantava mandioca, arrancava pra fazer farinha, beijú e tá tudo abandonado". A fiação seria puxada da casa de uma irmã onde a rede da Coelba chegou, "não deu certo porque atravessava a roça e é perigoso, ficamos sem energia pra ligar o motor da casa de farinha que agora tá parada".

Os moradores que estão nessa situação afirmaram que já procuraram a Coelba e até o Prefeito Municipal José Jailson para que ele intervisse: "aqui é só promessa, só falam e não fazem" contou Natalício. Ele lembrou que um filho chegou a cair em um dos buracos cavados que foram abandonados pela empresa. 

Um dos buracos cavados pela empresa que iria instalar os postos da rede de energia
Entramos em contato com a Coelba através da Ouvidoria, aguardamos retorno da empresa. Em seu site está destacado a garantia do serviço universal: "A universalização do serviço de energia elétrica está fundamentada na Constituição Federal, art. 23, inciso X, a qual trata do dever da União para combater as causas da pobreza e da marginalização social."

O programa Luz para Todos, lançado no Governo do ex-presidente Lula, levou energia elétrica para mais de 15 milhões de pessoas, só na Bahia são cerca de 2 milhõesmas infelizmente ainda há barroquenses e tantos outros brasileiros sem poder acender um lâmpada à noite.

@ Nossa Voz Por Victor Santos / Colaborou Rubenilson Nogueira

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